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EDIÇÃO RARA DO JORNAL “O PIQUETE”, EDITADO POR DILMA ROUSSEF NA CLANDESTINIDADE

Nos bairros operários de BH, circulavam pequenos jornaizinhos, dos quais o mais conhecido era O Piquete, produzido pela Colina, uma organização armada que era uma dissidência da Polop e editado por Dilma Roussef.

“Estes jornais eram rodados em algum Diretório de Estudantes ou em alguma igreja com um padre amigo, que apoiavam a luta dos trabalhadores. Nas grandes fábricas da região de BH e Contagem criavam-se grupos de trabalhadores que discutiam animadamente a situação da sua fábrica e do país.

Em 16 de abril, o caldeirão explodiu. Na grande siderúrgica Belgo Mineira, começou a greve que logo se espalharia pela região toda. A Mannesmam também entrou em greve e os operários ocuparam a fábrica, ou seja, ficaram lá dentro e recusaram-se a sair. Esse tipo de greve era cada dia mais comum nas fábricas da Itália e da França, e essa prática chegara a Minas Gerais.

Nas fábricas da região de BH e Contagem, havia a presença de militantes de muitas das organizações revolucionárias da época. Havia militantes da Colina – organização armada que mais impulsionou a greve –, da Polop, da Ação Popular, do PCB, do PCBR e da ALN, entre outras.

ocupação não foi fácil. Logo, a polícia e o Exército chegaram aos portões soldados da Mannesman, exigindo a desocupação. Um jovem operário, para fazer o exército desistir da invasão, toma uma atitude extrema: acende uma estopa e, com ela na mão, coloca-se na boca do distribuidor de gasolina, logo na entrada do pátio da fábrica, pronto para fazer explodir a fábrica e boa parte do bairro em volta. A invasão pela repressão não se deu e a greve continuou. Esse operário, hoje mais calmo, vive em Coronel Fabriciano.

A greve se estendeu a outras fábricas da região, atingindo mais de 20 mil operários. As grandes fábricas estavam todas paradas: Mafersa, RCA Victor, Acesita e tantas outras. Todos exigiam aumento salarial, mas o governo não cedia. A greve também não. Mais de uma semana depois, a Ditadura mandou o coronel Passarinho, então ministro do Trabalho, para, numa tumultuada assembléia no sindicato, fazer a proposta de um “abono” de 10%, que foi aceito e a greve acabou.

A repressão da Ditadura deu início à caçada a todos os líderes do movimento. Dezenas foram presos. Outros conseguiram fugir e muitos foram demitidos. Porém, ficou a lição. Mesmo com ditadura, os metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem conseguiram se organizar, por baixo, pela base, desafiando o poder dos patrões e de seu governo. No começo de junho, os militares, com o intuito de impedir que o exemplo de Minas se propagasse, estenderam o tal “abono” de 10% para todos os trabalhadores do país. ”

Vito Giannoti – artigo publicado no n° 22 da Revista ADVIR, da UERJ – outubro de 2008.

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