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SOBREVIVENTE DE CHACINA, EM QUE MORRERAM SEIS MILITANTES DA VPR, REAPARECE E REVELA FATOS NOVOS(PARTE 4)

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Quarta parte da entrevista com Jorge Barrett, irmão de Soledade Barrett, uma das vítimas da “Chacina da Granja de São Bento”,  montada pelo torturador Sérgio Fleury, o infiltrado cabo Anselmo e o agente do DOPS Carlos Alberto Augusto, em 8 de janeiro de 1973, sob a supervisao do Exercito e da Marinha.

José Anselmo dos Santos, Cabo Anselmo, ficou conhecido na memória política da ditadura que delatou os militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) encontrados mortos na Granja São Bento, em Abreu e Lima, incluindo sua própria companheira, a paraguaia Soledad Barrett. 

Nesta quarta parte Jorge conta como sua passagem na cela número 3 do DEOPS em São Paulo e seu contato com Edgard de Aquino Duarte

Apesar de ter abandonado a militância Edgar de Aquino Duarte foi assassinado.

Jorge conta que  só veio a saber que Daniel de Olinda era cabo Anselmo após conversar com Edgard de Aquino.

Aquino confirmou pro Jorge a história da equipe cubana de basquetebol.

Segundo Jorge, o cabo Anselmo tinha algumas manias pouco varonis.

Segundo Aquino, ele e o cabo Anselmo foram presos na mesma noite do contato com a equipe cubana.

Aquino teria ficado preso para que a prisão de Anselmo não vazasse.

Jorge conta que um grupo de policiais comentou na antesala do escritório de Fleury que iriam pro Chile no início de setembro. Era 1973, o ano do golpe.

Em 1985 Anselmo procurou o pai da mulher de Jorge para saber onde eles estavam.

Além da equipe de Fleury, na repressão em Recife e Olinda atuou o chefe do Deops do Rio de Janeiro.

OS  SEIS MILITANTES DA VPR ASSASSINADOS  

Jarbas Pereira Marques

Jarbas Pereira Marques, estudante e comerciário, nasceu no Recife, a 27 de agosto de 1948, filho de Antônio Pereira Marques e Rosália Pereira Marques. Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), usava o codinome de Sérgio. Foi preso dia 08 de janeiro de 1973, na Livraria Moderna, centro do Recife, onde trabalhava e foi trucidado, juntamente com outros cinco companheiros. O fato teria ocorrido na cidade de Paulista, Região Metropolitana do Recife e o episódio ficou conhecido como O Massacre da Chácara São Bento.

Inicialmente, a versão oficial informava que os militantes políticos Soledad Barrett Viedma, Eudaldo Gomes da Silva, Evaldo Luiz Ferreira de Souza, José Manoel da Silva, Pauline Reichstul e Jarbas Pereira Marques foram mortos durante uma suposta troca de tiros, na Chácara São Bento, onde a polícia descobrira “um aparelho terrorista”. Anos mais tarde, porém, essa versão era desmascarada e surgia a verdade: todos foram presos e torturados até a morte, provavelmente em lugares diferentes, tendo a chácara sido utilizada apenas para forjar o cenário do falso “tiroteio”.

Soledad Barret Viedma 

Nascida no Paraguai, Soledad era neta do intelectual paraguaio, nascido na Espanha: Rafael Barrett. Tanto o pai quanto o avô foram perseguidos por suas ideias políticas. No Uruguai, onde a família viveu exilada, Soledad foi raptada em julho de 1962, aos 17 anos, por um grupo neonazista, que a colocou em um automóvel e, sob ameaças, quis obrigá-la a gritar palavras de ordem contrárias às suas idéias. Por ter se negado, os raptores gravaram em sua carne, com uma navalha, a cruz gamada, símbolo do nazismo. Começou assim um ciclo de perseguições e prisões mostrando que, para a polícia uruguaia, Soledad passou de vítima a culpada. Ela decidiu deixar o país e seguiu para Cuba, onde conheceu o exilado brasileiro José Maria Ferreira de Araújo – militante da VPR conhecido como Ariboia, desaparecido no Brasil em 1970 –, com quem se casou e teve uma filha, Nasaindy de Araújo Barrett. No Brasil, onde passou a militar pela mesma organização.  Soledad foi presa e torturada até a morte .

A análise das fotos feitas pelas forças de segurança no local mostra que Soledad recebeu quatro tiros na cabeça e apresentava marcas de algemas nos pulsos e equimoses no olho direito. Os legistas que assinaram seu laudo fizeram também referências a equimoses espalhadas pelo corpo.
A militante paraguaia foi enterrada como indigente, sem qualquer identificação, no cemitério da Várzea, no Recife.

Pauline Philipe Reichstul

Filha de judeus poloneses, Pauline Reichstul nasceu em Praga (na então Tchecoslováquia), em 1947. Seus pais eram sobreviventes da Segunda Guerra e casaram-se depois de encerrado o conflito. Quando a menina tinha dezoito meses, a família mudou-se para Paris, onde viveu até 1955, voltando então a imigrar, agora para o Brasil. Com 8 anos de idade, Pauline foi estudar no Liceu Pasteur, em São Paulo. Viveu também em Israel, por um ano e meio, onde trabalhou e estudou. Depois de curtos períodos na Dinamarca e na França, fixou residência na Suíça, em 1966, primeiramente em Lausanne e depois em Genebra. Em 1970, Pauline completou o curso de Psicologia na Universidade de Genebra. Nesse período, passou a ter contatos com movimentos de estudantes brasileiros de resistência ao regime militar. Assim, passou a trabalhar com vários órgãos de divulgação na Europa, denunciando as violações de direitos humanos no Brasil, especialmente as torturas e mortes de militantes. Foi esposa de Ladislau Dowbor, dirigente da VPR banido do país em junho de 1970 em virtude do sequestro do embaixador alemão no Brasil. Pauline e mais cinco companheiros da VPR foram presos em lugares distintos e torturados até a morte.

Eudaldo Gomes da Silva

Nascido a 1 de outubro de 1947, no Estado da Bahia, filho de João Gomes da Silva e Izaura Gomes da Silva.

Estudante de Agronomia da Universidade Federal da Bahia, membro do Diretório Central dos Estudantes, durante o ano de 1968, e presidente do Diretório Acadêmico de sua Faculdade.

Banido do Brasil, em 15 de junho de 1970, por ocasião do seqüestro do embaixador da Alemanha, Von Holleben, com mais 39 presos políticos.

Retornando ao Brasil clandestinamente, foi morto no dia 7 de janeiro de 1973 juntamente com Pauline Reichstul, Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques, José Manoel da Silva e Soledad Barret Viedma.

Os torturadores e assassinos crivaram de balas os cadáveres dos seis combatentes, jogaram várias granadas na casa da referida chácara, com o objetivo de aparentar um violento tiroteio, dizendo que lá se realizava um suposto congresso da VPR.

Evaldo Luis Ferreira

Nasceu no Estado do Rio Grande do Sul, em 5 de junho de 1942, filho de Favorino Antonio de Souza e Maria Odete de Souza.

Muito jovem entrou para Marinha de Guerra, engajando-se no movimento dos marinheiros. Com o golpe de 1964, foi expulso pelo Ato Ministerial nº 365/64, devido à sua atuação na Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil.

Foi preso e morto sob torturas juntamente com outros companheiros no dia 07 de janeiro de 1973.

José Manoel da Silva

Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Nasceu em 2 de dezembro de 1940, em Toritama, Pernambuco, filho de José Manuel da Silva e Luiza Elvira da Silva.

Ex-cabo da Marinha, expulso em 1964.

Foi assassinado sob torturas pela equipe do delegado Sérgio Fleury no dia 8 de janeiro de 1973, no Massacre da Chácara São Bento. Os detalhes desse massacre estão na nota referente a Eudaldo Gomes da Silva.

Em 19 de dezembro de 1994, sua viúva Genivalda Maria da Silva exumou seus restos mortais.

À época da morte de José Manoel, Genivalda também foi presa, torturada e estuprada por soldados do Exército. Ficou, então, sem coragem para reclamar o corpo do marido.

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1 comentário

  1. Ronaldo Marcelo Pacce diz:

    muito bom essas revelações!

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