O conceito “Memória, Verdade e Justiça” não diz respeito apenas ao passado, mas especialmente ao presente. A impunidade antiga estimula a violência estatal atual, a ocultação da verdade recria a cegueira social. O esquecimento da violência desarma a população ante o arbítrio contemporâneo.
A truculência das Polícias Militares, a criminalização dos movimentos sociais, o chacinamento penitenciário, a tortura velada nas investigações, a cumplicidade corporativa das forças policias e a leniência judicial, se mantêm também como heranças perversas que trazemos do regime de 1964 e se mostram de modo cruel na vida cotidiana como intolerância, preconceitos de raça, de gênero, de classe, de opção política, de bairro e opção sexual.
Entre a tirania e a democracia, nossa “Justiça de Transição” segue incompleta, acobertando com a legalidade de hoje as perversidades de ontem, e contaminando todas as esferas sociais com seu legado de dor, vergonha e medo. É preciso julgar, reparar e não repetir.
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